José está sentado em seu barco em alto mar
olhando fixamente para a Grande Pedra na sua frente. A pedra que dizem ser o
grande ancestral dos povos africanos, a monumental senhora das coisas.
Contaram-lhe que ela conhece a origem e segredos de cada indivíduo que habita
aquele lugar. Ela conhece a angustia, sofrimento e alegria de todos. Por isto
José esta ali, ela é a única capaz de mostrar o caminho.
Por um bom tempo José se recusava a acreditar nas
histórias que seu povo contava sobre a grande pedra que ficava no mar. Não
conseguia acreditar que aquele ser inanimado poderia ser capaz de estabelecer
alguma conexão e até conversar com uma pessoa. Mas diante dos últimos
acontecimentos não poderia dispensar ajuda de nenhum ser, nem que este fosse
apenas uma pedra. Então resolveu ir ao seu encontro.
José reza. Reza para todos os seus antepassados,
reza para todos os seus ancestrais estarem com ele neste momento e pede para
que eles olhem para seu povo, que lhes dê força para suportar a batalha. Não
vai ser fácil, pois os outros têm mais arsenal, mais poder de fogo, não terão
condições de vencer. O quilombo seria invadido e tudo o que foi construído
durante os anos seria destruído.
Neste momento a monumental pedra, a ancestral dos
seus antepassados e de todos os povos vindos do além-mar se ergue em sua
frente. Seus grandes olhos negros estão abertos, sua expressão é de revolta,
como se o estivesse o repreendendo pelo seu último pensamento. José tem medo e
não acredita no que está vendo, “ela realmente existe e poderá nos
ajudar”.
A Grande Pedra pergunta, no entanto o que ele
está fazendo ali, pois pelo que lhe constava José nem acreditava que ela existia.
Sem deixar José responder a sua pergunta ela coloca que entende a angustia que
seu povo está passando e por isto resolveu aparecer e que se fosse só por ele
não lhe falaria.
Aflito José diz que entende e afirma que seu povo
precisa de ajuda. Ela ergue sua cabeça e sem mover os lábios lhe conta coisas
sobre as guerras, sobre as lutas que ela já viu, das lutas irracionais travadas
entre brancos contra negro. Falou também sobre como os povos com menos poder
armado eram os mais valentes lutando pela vida e liberdade. Falou que sim esta
não seria uma luta fácil e que seria devastador, que a maioria dos seus iriam
morrer, que ele iria sofrer com o sangue de muitos inocentes derramados.
Por um momento os dois ficaram calados até que a
ancestral lhe falou que nada seria em vão e aquela guerra infelizmente não iria
terminar ali e nem nas próximas que estão por vir. Ela então falou que o desejo
de justiça e liberdade não deve nunca parar. “As guerras irão mudar, os seus
filhos e filhos terão um pouco mais de liberdade mas as batalhas serão não
estarão terminadas. As lutas no futuro serão travadas através das palavras e
por meios mais tênues que este. Agora vá para a sua batalha, mas não esqueça
nunca de que a esperança é a mãe da liberdade”.
Após ouvir suas palavras José retorna a praia. Ao
descer do barco fala aos seus companheiros que pela primeira vez acredita nas
histórias que eles contavam sobre a Grande Pedra. Após contar os conselhos da Grande
Pedra volta com seus companheiros às suas casas para esperar a hora da luta.
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