quarta-feira, 19 de março de 2014

Foi peixe para mais de metro!

Após passar o sábado inteiro pescando, as únicas coisas que seu Rene e seu Gerson conseguiram foram meia dúzia de peixe miúdo e os anzóis embaralhados com os náilons um do outro.  Por causa desta confusão eles resolveram voltar mais cedo para casa e levar o pouco que pescaram.  Após passarem em casa e deixar o pouco que pescou, seu Rene e Gerson foram logo saindo para tomar uma no Bar de Carlos.

Eram quatro horas da tarde, mas o mais famoso boteco da rua já estava cheio. Ao chegarem no bar os dois amigos, e quase compadres, foram logo se sentando na única mesa que estava vazia e pedindo uma cerveja. Ao perceber que dois dos seus melhores clientes estavam sentados o dono do estabelecimento, Carlos, resolveu ir ao encontro deles e perguntar como foi o dia.     

- Foram pescar hoje? Pergunta o dono do estabelecimento.
Gerson e Rene percebem onde aquela pergunta ia acabar chegando, mas resolvem contar que foram pescar.
- Sim, fomos bem de manhã cedo, o galo não tinha nem cantado ainda. Gerson responde um pouco temeroso com a próxima pergunta.
- E então trouxeram muitos peixes hoje? Carlos pergunta.
Terminada a pergunta os dois amigos se olharam sem saber o que responder e diante o inevitável resolvem responder.  Neste momento Seu Rene começa a falar
-Rapaz a gente trouxe um balde cheio de peixe. Um Rubalos de cinco quilos, não foi “cumpade”? 
-Foi, foi mesmo. E deu uma trabalheira danada o bicho. Você precisava ter visto Carlos. Foi quase o dia todo tentando agarrar o peixe com a linha. Não foi não “cumpade” Rene?
-Oxe! E não foi não? Eu tive até que ajudar o meu “cumpade” Gerson a agarrar o bicho. Fui para junto e segurei a vara com ele!
-Então você segurou a vara do Seu Gerson? Pergunta Carlos sorrateiramente!
Rene faz cara de quem não gostou da piada e continua, mas continua a relatar o fato que para eles tornaram-se reais naquele momento.
-Pois, como eu te disse eu segurei a vara de PESCA, fala ressaltando a palavra, de meu amigo Gerson para ajudar, mas o peixe era muito grande, parecia ter uns 15 metros. E ficamos eu e meu “cumpade” aqui tentando resgatar o bicho. Depois de mais de 40 minutos é que a gente conseguiu pescar o peixe. Só tu vendo! Não foi não Gerson?
-Oxe, e não foi! Até hoje eu me lembro. Diz Gerson.
Carlos desconfia e pergunta
-Mas o fato não aconteceu hoje mesmo?
-Oh, sim! É que ficamos tanto tempo tentando pegar aquele bicho que até penso que foi outro dia.
-É mesmo concordo com você. Diz Rene para apoiar o amigo.
Carlos continua desconfiado e faz outra pergunta para vê se paga os dois na mentira.
-Mas vem cá, se o peixe foi grande assim do jeito que os dois estão dizendo por que não trouxe para a gente vê. 
Gerson se sente irritado com a desconfiança do dono do bar e fala de forma grosseira.
-Rapaz a gente veio aqui para tomar uma no seu bar e você trata a gente desse jeito chamando de mentirosos?
-É isso mesmo “cumpadre” é isso que a gente recebe por beber sempre no mesmo lugar. A gente até pediu para separar uma parte para você. Mas deixe está quem tem com o que me pagar n me deve nada e amanha é outro dia. 
Revoltados com o desaforo do dono estabelecimento os dois foram embora.
Carlos observa os dois amigos saírem do bar indignado, olha para a mulher que diz
-Que homens mais mentirosos!


quarta-feira, 12 de março de 2014

O homem e a pedra

José está sentado em seu barco em alto mar olhando fixamente para a Grande Pedra na sua frente. A pedra que dizem ser o grande ancestral dos povos africanos, a monumental senhora das coisas. Contaram-lhe que ela conhece a origem e segredos de cada indivíduo que habita aquele lugar. Ela conhece a angustia, sofrimento e alegria de todos. Por isto José esta ali, ela é a única capaz de mostrar o caminho.  

Por um bom tempo José se recusava a acreditar nas histórias que seu povo contava sobre a grande pedra que ficava no mar. Não conseguia acreditar que aquele ser inanimado poderia ser capaz de estabelecer alguma conexão e até conversar com uma pessoa. Mas diante dos últimos acontecimentos não poderia dispensar ajuda de nenhum ser, nem que este fosse apenas uma pedra. Então resolveu ir ao seu encontro. 

José reza. Reza para todos os seus antepassados, reza para todos os seus ancestrais estarem com ele neste momento e pede para que eles olhem para seu povo, que lhes dê força para suportar a batalha. Não vai ser fácil, pois os outros têm mais arsenal, mais poder de fogo, não terão condições de vencer. O quilombo seria invadido e tudo o que foi construído durante os anos seria destruído.

Neste momento a monumental pedra, a ancestral dos seus antepassados e de todos os povos vindos do além-mar se ergue em sua frente. Seus grandes olhos negros estão abertos, sua expressão é de revolta, como se o estivesse o repreendendo pelo seu último pensamento. José tem medo e não acredita no que está vendo, “ela realmente existe e poderá nos ajudar”.  

A Grande Pedra pergunta, no entanto o que ele está fazendo ali, pois pelo que lhe constava José nem acreditava que ela existia. Sem deixar José responder a sua pergunta ela coloca que entende a angustia que seu povo está passando e por isto resolveu aparecer e que se fosse só por ele não lhe falaria.  

Aflito José diz que entende e afirma que seu povo precisa de ajuda. Ela ergue sua cabeça e sem mover os lábios lhe conta coisas sobre as guerras, sobre as lutas que ela já viu, das lutas irracionais travadas entre brancos contra negro. Falou também sobre como os povos com menos poder armado eram os mais valentes lutando pela vida e liberdade. Falou que sim esta não seria uma luta fácil e que seria devastador, que a maioria dos seus iriam morrer, que ele iria sofrer com o sangue de muitos inocentes derramados. 

Por um momento os dois ficaram calados até que a ancestral lhe falou que nada seria em vão e aquela guerra infelizmente não iria terminar ali e nem nas próximas que estão por vir. Ela então falou que o desejo de justiça e liberdade não deve nunca parar. “As guerras irão mudar, os seus filhos e filhos terão um pouco mais de liberdade mas as batalhas serão não estarão terminadas. As lutas no futuro serão travadas através das palavras e por meios mais tênues que este. Agora vá para a sua batalha, mas não esqueça nunca de que a esperança é a mãe da liberdade”.       


Após ouvir suas palavras José retorna a praia. Ao descer do barco fala aos seus companheiros que pela primeira vez acredita nas histórias que eles contavam sobre a Grande Pedra. Após contar os conselhos da Grande Pedra volta com seus companheiros às suas casas para esperar a hora da luta.  

Foi peixe para mais de metro!

Após passar o sábado inteiro pescando, as únicas coisas que seu Rene e seu Gerson conseguiram foram meia dúzia de peixe miúdo e os anzóis e...